Os desafios do design sustentável para o século 21

Postado em: 16 / 07 / 2010

Marcio Dupont, novo colunista do BDxpert.com

Marcio Dupont, novo colunista do BDxpert.com

O designer especialista em design e consumo sustentáveis, Márcio Dupont, é nosso novo colunista. Ele irá escrever mensalmente artigos sobre diversos assuntos ligados ao design. Neste seu primeiro artigo ele fala dos desafios do design para o século 21. Veja a seguir: 

 

Por Márcio Dupont

O design no século 21 encara novos desafios. Desafios relacionados à sua natureza evolutiva e às novas exigências do mundo contemporâneo. Enquanto no passado o design sempre serviu a um interesse puramente individual e material, em um papel não formativo, agora deve servir a interesses coletivos não materiais e formativos, por meio de novos produtos, serviços e sistemas que permitam exercer novos valores sociais de coletividade, cooperação, benefícios e generosidade.

Essa mudança não depende apenas do design, mas também da mesma infraestrutura de produção-consumo-descarte da sociedade e de seus participantes ativos como as forças do mercado: a regulamentação e as políticas governamentais, e de um consumidor com mais consciência sobre o impacto que seu estilo de vida exerce sobre o meio ambiente e com mais responsabilidade em relação ao seu consumo pessoal.

Filtro portátil permite tomar água direto da fonte, não importando a qualidade da água

Filtro portátil permite tomar água direto da fonte, não importando a qualidade da água

Todos devem reajustar-se às novas crenças, valores e realidades relacionadas ao meio ambiente. Para isso, devemos então fazer a transição de uma cultura individual atual, orientada ao produto-objeto com um beneficio individual e local, para uma cultura de ações e benefícios coletivos pelo uso de produtos, sistemas e serviços projetados dentro dessa nova dinâmica.

Essa nova perspectiva sobre o design para serviços é visível com a criação de cooperativas agrícolas orgânicas, aluguel de bicicletas, criação de ciclovias, uso de carros comunitários e participação ativa da comunidade em restaurantes locais como fornecedores de alimentos, verduras e matéria prima.

A transição para uma sociedade de serviços também é muito importante porque significa o “empoderamento” do consumidor, ele tem mais poder de decisão e escolha, não dependendo apenas dos produtos, serviços e sistemas gerados nas grandes corporações.

A mudança de poder das grandes empresas para o consumidor também significa uma quebra de paradigmas, pois, agora é possível o caminho inverso, em que o consumidor cria novos sistemas e serviços locais e o beneficio coletivo, social e econômico de todos os participantes. Assim todos ganham, abandonando a velha dinâmica de lucro apenas para o elo mais forte da cadeia.

O consumidor ganha um papel de cocriador junto ao designer, desde o inicio do processo até o retorno do descarte e subprodutos para reciclagem e réu-uso na mesma planta industrial.

O designer tem um papel fundamental na conformação dessa nova sociedade como um construtor de entornos materiais, experiências e estilos de vida, e deve compartilhar essa visão mais humana, focada não apenas no produto físico imediato, mas também nas relações não materiais de sistema ou serviços; relações não materiais como bem-estar, ações coletivas dentro de uma comunidade, benefícios para outros participantes.

Lavanderia móvel, pessoas doam suas roupas que são lavada no veiculo e doada mais adiante

Lavanderia móvel, pessoas doam suas roupas que são lavadas no veiculo e doada mais adiante

Como exemplo, há iniciativas nos Estados Unidos em que a empresa Warby Parker doa um par de óculos para cada modelo vendido. Ou a empresa de vinhos Cellar Thief, doa 100 dias de água pura para a África por cada garrafa vendida de vinho.

Outro exemplo interessante é o de Manchester, Inglaterra. A empresa Tapwater, coordena uma rede de lojas que permitem que a pessoa entre no estabelecimento e encha de água pura a sua garrafa Tapwater, diminuindo consideravelmente a compra diária de garrafas de água mineral. O design também se renova com um papel formador, de serviço educativo ao consumidor.

No século 21, o design também tem um papel formativo de conscientização em relação ao meio ambiente, à chamada educação ecológica do consumidor, através de produtos, serviços, sistemas ecológicos que conscientizam o consumidor sobre o impacto que seu estilo de vida exerce sobre o meio ambiente, sobre como otimizar esse estilo de vida em relação ao meio ambiente e apresentar alternativas ecológicas.

Não é suficiente apenas consumir ecologicamente pelas gerações presentes, a educação ecológica é também para as novas gerações. A educação ecológica é uma compreensão dos sistemas ecológicos naturais e de uma consciência sobre como a sociedade humana funciona dentro de uma ordem natural pré-existente.

Dessa maneira, o design terá cumprido seu papel ajudando na transição para uma sociedade sustentável no futuro. Finalmente, o grande desafio para todos é encontrar um novo significado para a qualidade de vida e aprender a viver melhor com menos. Será possível?

Marcio C. de C. Dupont é designer de produto especialista em design e consumo sustentáveis e autor do blog marciodupont.blogspot.com

Blog: http://marciodupont.blogspot.com

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